sexta-feira, 2 de julho de 2010

NO TEMPO DAS PELADAS

Desculpem-me os meus leitores mais conservadores, se os assustei com este título que pode suscitar mal entendidos. Não estou falando de nudez, mas do jogo de bola. Era assim que nós meninos chamávamos os nossos jogos, jogados descalços e sem uniforme. As ruas de terra nos recebiam com suas pedrinhas que machucavam a sola dos pés e com as calçadas de meio-fio que nos faziam tropeçar e tirar uma lasca do dedão do pé, ao tentar dominar a bola que quicava de um lado ao outro da rua. No meu tempo de garoto, jogar uma pelada era um vício que nenhum de nós queria abandonar. Sem chuteiras, nem uniformes, saíamos para a rua pés descalços e peitos nus. Par ou ímpar, era o ritual de escolha dos times. Os melhores eram os primeiros escolhidos, ficando para o final aqueles que só completavam os times. Hoje em dia, quando assisto a nossa seleção jogar esse futebol econômico, quase miserável, ponho-me a pensar, quais desses jogadores seriam escolhidos e quais ficariam de contrapeso. A meninada do meu tempo costumava começar com o goleiro, assim o Julio César seria a minha primeira escolha. Desse modo, eu sabia que não haveria rodízio no gol, pois teríamos um especialista na posição. Era muito chato, ter de ir para o gol de tantos em tantos gols. Depois, eu garantiria a defesa escolhendo o Lúcio, mas sabendo que perderia o Juan, que seria a escolha do meu adversário. Me dá o Robinho, quero o Kaká. O Ganso, Neymar; Luis Fabiano, Maicon. O resto a gente distribui. Gilberto Silva chuta pra lá, Felipe pra cá. Michel pra lá, Elano pra cá. E o Josué, chuta pra onde?
Eu não quero ele, nem eu. Entra ele pra lá e o Julio Batista pra cá. E chega!!!
Com licença da FIFA, mas na minha pelada o Ganso e o Neymar não ficariam de fora jamais. Mas, na pelada do Dunga, a relação dos peladeiros é outra, bem diferente.
A nossa bola de pelada era de borracha, já que a tradicional bola de couro, o pneuzinho, era cara e não costumava se fazer presente em nossas peladas. A nossa jabulani era de uma borracha avermelhada, às vezes branca, mas não era muito pior do que a bola oficial desta Copa de 2010.
O courinho era um outro departamento, cheirosa e de cor vermelho-alaranjada, quando ela aparecia na rua, toda a meninada fazia reverência ao dono da bola, que tinha vaga garantida com todas as honras, mesmo que fosse um perna de pau. As mulheres que me perdoem o linguajar, esse dialeto masculino e que é estranho para a maioria delas. Pelada, jogo contra, amistoso e outros termos alienígenas para o mundo feminino são íntimos de todos nós que vivemos a nossa infância jogando bola na rua, nos tempos da Era do Rádio.