terça-feira, 10 de agosto de 2010

A SEXUALIDADE NA ERA DO RÁDIO


Meus recatados leitores, não se assustem com o título do texto, que obteria censura livre de qualquer censor mais rigoroso, mas se preparem para refletir sobre o amor.

Estava a ouvir a encantadora música tema do filme não menos encantador Verão de 42, ou como foi traduzido no Brasil – Era uma vez um verão.

Como diz minha crítica Flora, isso é filme para homem. E ela tem toda razão, apesar de não me furtar a uma ressalva de que as mulheres deveriam prestar mais atenção aos gostos masculinos, para que pudessem entendê-los melhor.

Recomendo às mulheres a leitura do livro HE de Robert A. Johnson, para que conheçam a chave do entendimento da psicologia masculina, como afirma o subtítulo da obra.

Calma lá, minhas queridas leitoras, não me furtarei a cobrar dos homens uma atitude semelhante, recomendando-lhes outra obra do mesmo escritor, denominada SHE.

Se homens e mulheres se preocupassem mais em entender as psicologias uns dos outros, os casais não brigariam tanto e o número de separações se reduziria drasticamente.

Mas, voltemos ao verão de 42, quando se passa a narrativa do filme, em que um grupo de meninos fica obcecado com a presença de uma bela e solitária jovem, morando numa casa à beira da praia da ilha onde se passa a história.

Da obsessão à paixão, e dessa ao despertar da sexualidade do adolescente tudo se passa com absoluta naturalidade, que se vai encadeando entre a curiosidade inicial, a atração física e até o desabrochar da sexualidade do jovem mais recatado dos três.

A jovem desesperada pela notícia da morte do marido na guerra, noticiada por uma carta, cede à casta paixão do adolescente. Naquele momento, foi como se ela entendesse o vazio na alma do adolescente, por tê-la tão próxima e ao mesmo tempo tão distante, naquela ânsia por tocá-la.

Entendam, os jovens leitores, o rapazinho não pensava em sexo, mas em extravasar o seu sentimento apaixonado, represado na alma. E, o ato sexual é, ou deveria ser o epílogo dessa epopéia amorosa, que saltita dos olhos para a mente, e dessa para o coração.

Perdoam-me os que, com menos de 50, se arriscam a vir ler essas minhas reminiscências que falam de um tempo em que o amor antecedia o sexo. Pedia-se para namorar, pegava-se na mão, para só mais tarde colocar-se a mão no ombro. Beijos? Isso ficava para mais tarde, quando a moça confiasse nas intenções do rapaz. O que? Sexo? Nem pensar nisso, antes da aliança no dedo, e no dedo da mão esquerda.

As imagens desse filme, para homens ou para garotos, transportam-me para a minha infância, em que as meninas mais saidinhas do que os meninos escreviam bilhetinhos e propunham brincadeiras que sugeriam um pouco mais do que coleguismo ou amizade.

Lembro-me do recreio no primário, em que por sugestão feminina, juntávamos meninos com meninas para brincar de casamento japonês. Meninas de um lado e meninos do outro. A menina fixa o olhar na vítima e ataca o pobre coitado que, vermelho e sem outra saída, se vira de costas, recusando a investida. Mas, isso era só o início. Ela esperava a volta, e com aquele olhar oblíquo e dissimulado, no estilo Capitu, aguardava o fim do vai-e-vem, de meninas escolhendo meninos e de meninos escolhendo meninas.

Ela rejeitava todos os demais pretendentes, e ele também, até que só restavam os dois. Ela, então, sorrateira e faceira caminhava até o seu objeto de desejo e propunha o acordo mais honroso para os brios masculinos, aceitar a donzela quase ajoelhada a seus pés.

Ele não tendo outra saída, dizia sim, não lhe dando as costas. E ela num salto felino, encaixava o braço no braço dele, e saía vencedora daquele desafio conjugal nipônico. Casamento japonês, a primeira trama feminina para subjugar os tímidos e indefesos machos, e se apossar deles, sem dó, nem piedade.

É claro que, mais tarde, os papéis se inverteriam, mas tudo com uma dignidade e recato, que constrangeriam os machões de hoje em dia e, mais ainda, as moçoilas deslumbradas que estão mais ansiosas com a lua-de-mel do que com o ato conjugal de dar o braço ao estilo do nosso casamento japonês.

Se as mulheres procurassem entender o que se esconde na alma masculina, talvez se surpreendessem ao descobri-los assustados e inibidos, com a proximidade de um encontro às escuras, ou ansiosos e temerosos, por descobrir com quem com ele troca confidências na frente da telinha do seu computador.

Os homens são mais tímidos do que querem demonstrar, e as mulheres mais impetuosas do que deixam transparecer. E isso vem desde o verão de 42, quando aquela jovem viúva traumatizada pela perda do seu amado, não ficou insensível ao sofrimento daquele espécime masculino que sofria de paixão, com a sua proximidade.

Carinhosamente, ela conduziu-o para o quarto. E como o filme foi feito numa época em que se sugeriam amores e carinhos mais do que se esmiuçavam posições e carícias, ficou tudo por conta da nossa imaginação. Imaginações masculinas e imaginações femininas, separando bem sentimentos e fatos.

Digo-lhes, meus jovens leitores, sofria-se mais naquela época, por um amor recusado, por uma paixão perseguida e perdida. Mas, o amor era mais prazeroso. E o sexo, bem... Que cada um tire as suas próprias conclusões. E é bom não esquecer que no verão de 42 já estávamos vivendo Na Era do Rádio.