sábado, 1 de maio de 2010

TRABALHADORES DO BRASIL !!!

-Trabalhadores do Brasil...!!!
Era a voz do Presidente Vargas entrando em nossas casas pelas ondas do rádio.
O povo já conhecia o seu refrão, repetido antes de cada frase endereçada aos trabalhadores.
Os operários adoravam ouvir o Velhinho, como era chamado carinhosamente pelos mais humildes. Ele tinha a empatia popular que o povo reverencia sem discutir os méritos.
Ele prometia e cumpria, ao contrário da maioria dos atuais políticos e governantes.
O ano era um dos primeiros da década de 50, o dia e o mês não deixam dúvida, era um Primeiro de Maio - Dia do Trabalho.
Os rádios estavam, quase todos, ligados no discurso do Presidente, transmitido desde o campo do Vasco, cenário dos principais eventos da época.
Getúlio Vargas foi um homem polêmico, amado ou odiado, jamais ignorado. Era um líder na verdadeira essência da palavra, e a sua liderança era exercida a favor dos trabalhadores. Ele sabia agradar os mais pobres, para os quais governava sem constrangimentos ou disfarces.
As classes média e rica tinham lá suas restrições a Vargas, mas poucos se atreviam a criticá-lo, pois ele governava com pulso forte, mesmo quando foi eleito dentro das regras democráticas. Ele já havia sido ditador, quando a sua polícia secreta pintava e bordava, calando quem se metesse a besta de criticá-lo em público. Depois de deposto, anos depois, cometeu a ousadia de se candidatar à presidência, e ganhou a eleição.
Dizia eu que o os rádios estavam ligados no discurso de Primeiro de Maio, e digo-lhes agora que, sendo feriado, tudo estava parado, não havia vivalma nas ruas.
Aquele deserto me incomodava muito em dias de feriado, pois não conseguia entender porque meus colegas tinham que ficar em casa, se na nossa idade ninguém precisava de feriado para descansar.
Sem a molecada na rua, não havia a tradicional pelada da tarde. E sem a pelada diária, o meu dia não era completo. Eu dormia com a sensação de que faltou alguma coisa, algo que me alimentava e me dava mais vontade de viver.
O sentimento de frustração, diante da rua vazia, era marca constante a cada feriado.
Nos dias santos, então, a tristeza era ainda maior, com as missas matinais e as frustrações vespertinas.
Dia santo, vá lá! Afinal, os pais arrastavam os filhos para as missas, e à tarde terminavam, quase sempre, nas casas dos avós. Mas, no Dia do Trabalho!
E afinal que dia do trabalho é esse, se ninguém trabalha? E ficava eu a resmungar, tentando encontrar um bode expiatório, sobre o qual lançar toda a minha raiva pelas ruas desertas.
Se eu pudesse silenciava o Presidente, trocava a estação do rádio para um programa mais alegre e ia para a rua bater a minha pelada. Mas, eu era uma criança, e mesmo pensando que sabia de tudo, a verdade é que eu não sabia nada.
Os dias de feriado acabavam chochos, sem conteúdo. Eu ia dormir ranzinza e implicante, transferindo para o cuco do relógio a minha raiva contida, que não me deixava dormir um sono tranqüilo e repousante.
Ao pegar no sono, sonhava com o dia seguinte, e já me via na algazarra da rua, no meio de uma daquelas peladas disputadas, que a garotada torcia para não acabar nunca.
Desculpem-me senhoras, sei que há um certo egoísmo masculino, nessas minhas reminiscências, mas não tenho como esconder ou negar a minha condição de menino, quando relembro as minhas decepções infantis em dias de feriado.

A chateação era tamanha que nenhuma música eu ouvia que não me causasse um enfado fatigante, daquele que dá vontade de pegar um gibi, deitar na cama e esperar o sono chegar.
Nem Dalva, Emilinha ou Dircinha, nem mesmo a Adelaide cantando Beijinho Doce, nada me levantava o astral.
E no rádio do vizinho, pois o meu já havia sido desligado há tempo, ainda pude ouvir o fim do discurso do Presidente Vargas, com a mesma saudação com que começou:
- Trabalhadores do Brasil!!!

Amanhã, pensava eu, essa sopa vai acabar, e a bola vai rolar.
O rádio desligado. Isso, às vezes acontecia, mesmo durante aqueles tempos, da Era do Rádio.

2 comentários:

Flora Maria disse...

Por que achamos os feriados um tédio?
Sim, porque eu continuo achando !
Feriados e domingos, valha-me Deus ! Era uma tristeza só.
Mas não seria boa essa fuga da rotina ?
Ou a nossa rotina era - e é - tão boa que não queremos fugir dela ?

Mas, para os trabalhadores do Brasil, um bom feriado.

Beijo

Gilberto Gonçalves disse...

Minha querida, Flora:
Achei-a meio populista, com a sua saudação getulista no final do comentário. Mas, conheço a sua índole, e sei que de populista não tem nada, então deve ter sido sincera ao saudar os trabalhadores, que afinal de contas somos todos nós.
Quanto ao tédio dos feriados, a gente precisa dar um jeito nisso. Ou se acaba com o tédio ou com os feriados. Os dois não podem continuar fazendo tanto estrago juntos, por muito mais tempo.
Vamos buscar soluções?
Estou pronto para ouvi-la.
Beijos.
Gilberto.