segunda-feira, 13 de setembro de 2010

74 ANOS DE RÁDIO NACIONAL

Meus nostálgicos e cultos leitores:
Ontem, dia 12 de setembro, a nossa Rádio Nacional do Rio de Janeiro completou 74 anos de existência.
A Rádio Nacional foi pioneira em diversas áreas, como no radiojornalismo, nas novelas radiofônicas e nos programas humorísticos.
Quem dentre nós, que vivemos na Era do Rádio, poderia esquecer aquela escalada sonora que anunciava a entrada no ar de mais uma audição do Seu Repórter Esso, "o porta-voz ocular da história". A voz impostada de Heron Domingues, invadia o nosso lar causando palpitações em nosso peito, por temermos desgraças, guerras e mortes, que sempre eram anunciadas logo na abertura do noticiário.
"Rio - a jovem Aida Curi, moça da sociedade carioca, morreu ao despencar do alto de um prédio em Copacabana. Suspeita-se que ela tenha sido atirada..." Washington - o Presidente Roosevelt acaba de anunciar um plano de ajuda econômica aos países aliados para o período de pós-guerra..."
A mente infantil, daquele jovem que era eu, mal se dava conta de que estava sendo apresentado ao mundo de violências e de artimanhas políticas, com o qual teria de conviver por toda a minha vida.
A vida era bela, pois nem só de noticiários vivia a nosssa Rádio Nacional. Haviam os programas humorísticos, que distraíam a minha mente de menino. Às sextas, ao pé do rádio, lá estava eu e toda a família, aguardando o ansiosamente esperado Balança mas não cai. Era meia-hora de risos e encantamentos com piadas puras e ingênuas que falavam de política, de futebol e até de sexo, mas tudo com uma pureza digna de ser transmitida durante um Concílio de Bispos.
"Num canto qualquer da cidade maravilhosa, se ergue o Edifício Balança, Balança... mas não cai ".
E o Direito de Nascer, a mais famosa novela de todos os tempos, quem pode esquecer? A Mamãe Dolores até hoje emociona aquela geração de ouvintes que sofria com o drama da pobre mãe e do seu Albertinho Limonta.
E os seriados com os nossos super-heróis da época, quem não lembra? As Aventuras do Anjo e do seu parceiro Metralha, antecediam o sempre aguardado Jerônimo, o herói do sertão, que ao lado do seu inseparável companheiro Moleque-Saci, lutava contra o ameaçador Caveira que tinha no seu comparsa Chumbinho o executor de todos os seus planos maldosos, visando acabar com a vida do nosso herói. Naquele tempo, chamar de moleque e de negrinho não era nenhuma ofensa, mas uma forma carinhosa de tratar os amigos negros. E ninguém era mais ou menos discriminado só pelo jeito com que era chamado. Hoje, nós teríamos de mudar a lingugem carinhosa com que o negrinho era tratado pelo amigo Jerônimo, sua noiva Aninha e o pai dela o Sr. Alonso.
Aos sábados, não havia outra estação a ser sintonizada senão a querida Rádio Nacional que, a partir das 3 horas tomava conta da tarde, com o Programa César de Alencar. "Esta canção nasceu pra quem quiser cantar, canta você, cantamos nós até cansar..." Alô, alô, alô, era ele , saudando o auditório superlotado pelas fanzocas da Emilinha Borba, que aguardavam ansiosas que fosse anunciada a presença da minha, da sua, da nossa favorita, Emilinha Borba. E o auditório ia ao delírio, quando de fundo musical, com o jingle do patrocinador, todos cantavam: "Pastilhas Valda, Pastilhas Valda, Emilinha é a maior, Pastilhas Valda, Pastilhas Valda, Emilinha é a maior".
A rivalidade entre Emilinha e Marlene, que era outra grande estrela do cast da Rádio Nacional, era celebrada através de dois programas de auditório - o de César de Alencar, promovendo a Emilinha, e o de Manoel Barcelos, que só tinha espaço e vez para Marlene.
Tudo jogo de cartas marcadas, mas quem se importava com isso? As fans brigavam, se chingavam e choravam de emoção, aos pés de suas artistas amadas e idolatradas.
É claro que existiam outras cantoras, e com mais qualidade que as duas, mas quem estava ligando para voz e interpretação? A rivalidade e a luta por fazer da sua favorita a Rainha do Rádio era o que contava, o resto era uma questão de detalhes.
E as tardes de futebol, com os locutores esportivos contando em palavras o que nossas vistas não poderiam ver, que momentos marcantes na minha vida de guri!
Novelas, teatros, crônicas, noticiários e os programas de auditório e humorísticos invadiam as nossas vidas e ocupavam o nosso imaginário, pois o rádio possui essa magia de narrar um fato e deixar que cada um pinte a tela do acontecimento com as tintas da sua imaginação.
Eu me deliciava com tudo que o rádio pudesse contar, e que eu fosse capaz de criar imagens do fato em si. Corrida de automóveis, que eram chamados de baratinhas de corrida, no Circuito da Gávea, com o famoso ídolo da época, o Chico Landi. Os jogos de basquete à noite, com o Flamengo campeão, comandado pelo legendário Algodão, levando o presidente Gilberto Cardoso a morrer de emoção, após o título conquistado por um ponto sobre o Fluminense.
Naquele tempo, os presidentes de clube davam a vida pelos clubes que presidiam. Eu sei que isso parece estranho, meu atento leitor, mas eram os velhos tempos, aqueles que não voltam mais. E a tudo isso, a Rádio Nacional contava aos pés do ouvido de nós ouvintes ligados nos acontecimentos do Brasil e do mundo.
Os artistas eram contratados a peso de ouro, como acontece agora com os jogadores de futebol. A diferença é que os artistas só nos davam alegrias, ao contrário desses mocinhos pretensiosos que pensam que são craques, só porque são promovidos por agências e marcas que pouco se importam com a qualidade dos espetáculos.
A Rádio Nacional era a grande agenciadora de craques radiofônicos, e seus programas eram insuperáveis. Campeã de audiência e líder em todos os horários de programação, o mundo não teria sido o que foi, se não existisse a Rádio Nacional.
E a nossa vida não teria sido aquela existência mágica e encantadora, se não tivéssemos nascido na Era do Rádio.